Maternidade da UFRJ é referência no acolhimento ao luto gestacional
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Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Agência Brasil

Uma maternidade pública na zona sul da cidade do Rio de Janeiro se tornou referência no atendimento a famílias enlutadas depois da morte de um bebê na gestação, no parto ou nos primeiros dias de vida. 

Neste outubro, mês que, pela primeira vez, pauta o luto gestacional, neonatal e infantil no Brasil, a Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro abriu suas portas para apresentar como faz o acolhimento de pacientes e como vem evoluindo suas práticas há pelo menos 15 anos, apesar dos desafios.

Em agosto deste ano, passou a vigorar a política de humanização do luto materno e parental, que determina um atendimento respeitoso, que ajude na recuperação das pessoas que passaram por esse trauma. 

A política traz uma série de determinações às maternidades públicas e privadas, incluindo a possibilidade das famílias poderem ter um último momento com a criança, bater fotos ou receberem registros como as digitais do pezinho e poderem se despedir. Também foi determinada a possibilidade de registrar o nome do bebê na certidão de óbito, e se for do interesse da família, enterrar ou cremar.

Na maternidade da UFRJ, esse momento de despedida ocorre em um local diferenciado, chamado “morge”, que, muitas vezes, não é aberto às famílias nas unidades. Ali, acontecem momentos singelos, mas cheios de afeto, contou a psicóloga Paula Zanuto.

“Nesta semana, ocorreu uma despedida que emocionou toda a equipe. Um pai e uma avó vieram se despedir de um bebê que nasceu a termo, acho que com 38 semanas, mas só viveu por um dia“, revelou a psicóloga. 

“O pai e a avó vieram muito cuidadosos, muito amorosos com o corpinho do bebê, o pai colocou a roupinha, vestiu a luvinha, a meinha, muito cuidadoso, a avó falando ‘cuidado para ele não sentir frio’ , por mais que o bebê estivesse morto. A avó ainda ninou um pouquinho no ombro, enrolou na mantinha. O pai colocou a alcinha do nosso coração [de pano] em volta do bracinho do neném e na altura do coração de verdade. Foi uma cena linda, todo mundo segurou o choro, eles enfrentaram uma perda difícil juntos”, descreveu Paula para ressaltar a importância do morge.

A maternidade separou para aquele momento um local especial, com adesivos enfeitando as paredes, mantinhas cheias de bichinhos, cueiro e roupinhas de recém-nascido, para o caso de a família não ter. Outro diferencial foram os coraçõezinhos de pano, produzidos por voluntárias e que são doados às famílias, como lembrança. 

“A gente oferece um par. Uma unidade fica com a mãe ou o pai e a outra embalamos junto com o bêbê”, explicou Daniela Porto Faus, chefe da Unidade de Atenção Psicossocial e psicóloga clínica da unidade.

“A gente favorece muito esse momento de despedida, seja no centro obstétrico ou na UTI. Respeitamos o tempo da família, temos muito cuidado”, acrescentou Daniela, dando exemplo de outro protocolo muito sensível: “quando o bebê na UTI está muito grave e nós sabemos que vai ter um desfecho ruim, a gente já oferece [que ele vá para] o colo para que esse bebê possa ir ao óbito ali juntinho da mãe”.

Segundo a chefe da Divisão de Gestão do Cuidado, Andrea Marinho Barbosa, responsável pela implementação da política, há a intenção de ampliar o morge para que as famílias tenham mais espaço para a prática, considerada importante para o luto. 

“Nosso grande problema hoje é a estrutura física. O local do morge, onde ficam os corpos, é um pouco pequeno para receber a família toda na despedida do neném”, disse. 

Além desse espaço, as mães, no leito da enfermaria, ou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) têm o tempo que precisarem para se despedir. Na UTI, a equipe prepara uma espécie de biombo, para garantir a privacidade do momento. 

“Elas ficam extremamente agradecidas, agradecem muito, se sentem acolhidas, né?”, revelou Andrea, acrescentando que o mesmo acontece com a possibilidade de colocar o nome na certidão. 

“Algumas [mães] já pediam antes, mas como não tinha nada formalizado, a gente não colocava, botava natimorto, agora, a grande maioria pede para colocar o nome escolhido pelos pais”, disse.

Há pelo menos 15 anos a maternidade coloca em prática medidas para garantir mais respeito e acolhimento para famílias nessa situação. A primeira delas foi a instalação da Enfermaria da Finitude, para onde vão essas mães. A maternidade observou que a convivência daquelas enlutadas com outras mães de filhos nascidos vivos ou em aleitamento causava sofrimento psíquico para as puérperas e fez a separação.

Fonte: Agência Brasil

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