Luiz da Costa Nepomuceno Filho – Coordenador do Diagnóstico Precoce – CRBM2: 11928 | CRF/RN: 6776

O câncer infantojuvenil, responsável por cerca de 8.460 novos casos anuais no Brasil (INCA, 2023), exige uma abordagem multidisciplinar. Enquanto o diagnóstico precoce amplia as chances de cura, os cuidados paliativos garantem suporte físico, psicológico e social, independentemente do estágio da doença.
Contudo, persiste o mito de que cuidados paliativos são exclusivos para pacientes terminais, ignorando seu papel na mitigação de efeitos adversos do tratamento e no alívio sintomático desde o primeiro momento (WHO, 2020).
O diagnóstico precoce permite intervenções terapêuticas menos invasivas e maior eficácia. Por exemplo, a leucemia linfoblástica aguda, quando identificada no estágio inicial, tem taxas de cura de até 90% (INCA, 2023). No entanto, mesmo nesses casos, os tratamentos (como quimioterapia e radioterapia) geram efeitos colaterais debilitantes, como dor crônica, náuseas e fadiga.
É aqui que os cuidados paliativos se tornam essenciais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2020), cuidados paliativos pediátricos devem ser iniciados no momento do diagnóstico, atuando em três eixos, no Controle de sintomas: Manejo da dor, nutrição e suporte respiratório; Apoio psicossocial: Acompanhamento para ansiedade, depressão e adaptação familiar. E na Tomada de decisões compartilhadas: Discussão transparente sobre prognóstico e preferências terapêuticas.
A associação entre cuidados paliativos e fase terminal é um equívoco perigoso. Em pacientes com diagnóstico precoce, essa abordagem previne sequelas a longo prazo. Por exemplo: As neuropatias por quimioterapia, impacto emocional: Em casos de câncer avançado, mesmo quando o diagnóstico foi tardio, os cuidados paliativos oferecem dignidade. No projeto “Aconchego”, desenvolvido no Rio Grande do Norte, famílias de crianças com tumores cerebrais relataram melhora na qualidade de vida após acesso a serviços de musicoterapia e acompanhamento espiritual (COSTA et al., 2022).
Diagnóstico precoce e cuidados paliativos não são polos opostos, mas facetas de um mesmo compromisso: garantir que crianças e adolescentes com câncer vivam com mais saúde e menos sofrimento, independentemente do desfecho clínico. Enquanto o primeiro salva vidas, o segundo preserva a dignidade.
Como ressalta a OPAS (2018), “cuidar não é apenas tratar, mas acolher”. Portanto, políticas públicas devem priorizar a integração dessas práticas, capacitando profissionais e sensibilizando a sociedade. Afinal, cada dia de vida importa — seja para celebrar a cura ou para oferecer conforto na despedida.